Um amor que desafia as convenções de uma época, disputas de poder, um trono em perigo, traições e morte. O enredo poderia ser o de um clássico de Shakespeare se não fosse fato real. Inês de Castro, personagem das mais populares em Portugal, foi protagonista, no século XIV, de uma história passional e dramática, sendo assassinada pelo Rei lusitano D. Afonso IV, pai de seu grande amor, Pedro, que fez da amada rainha de Portugal mesmo depois de morta. O episódio trágico já foi inspiração para grandes nomes da literatura, como Camões, e também do teatro e da música. Há mais de 50 anos longe dos palcos cariocas, a trajetória da dama galega é novamente apresentada na cidade. Inês de Castro – Rainha Morta, montagem dirigida por Marcello Escorel, com Juliana Teixeira no papel título, Roger Gobeth como Pedro, Nildo Parente como Rei Afonso e Pitty Webo como D. Constança, estreou no dia 18 de março, às 21h, no Teatro Villa-Lobos, reapresentando ao público do Rio a personagem que se transformou em mito universal.
“A história de Inês de Castro é sobretudo uma história de amor, como Romeu e Julieta, Tristão e Isolda, com a tocante diferença de que foi uma história real”, diz Juliana Teixeira, também produtora da peça, que planejava há mais de cinco anos montar o espetáculo no Rio.
Juliana pesquisou a fundo, em bibliotecas no Brasil e Portugal, diversos textos teatrais sobre Inês. Chegou ao escrito pelo espanhol Alejandro Casona, através de indicação de um professor de Artes Cênicas da Universidade de Coimbra, que foi então adaptado por Marcilio Moraes. A peça de Casona concentra a ação nos dois últimos dias de vida de Inês, momento em que as relações e dramas pessoais são cercados de grande intensidade.
A história real de Inês de Castro tem início em Monforte, em 1325, quando nasce, filha bastarda de um fidalgo galego, Pedro Fernández de Castro, com a portuguesa Aldonza Suárez de Valladares. Aos 15 anos, segue para Portugal no séquito de D. Constança Manoel, prometida do herdeiro do trono português, D. Pedro. Casam-se. Pedro, no entanto, encanta-se com Inês, sua prima em segundo grau. A relação entre os dois começa mesmo diante de diversos impedimentos políticos e morais. Como resultado, D. Afonso IV obriga a amante a exilar-se na Espanha. Com a morte de D. Constança, no entanto, Pedro e Inês passam a morar juntos. Tudo parece bem, até os três conselheiros do Rei, amedrontados pelas ambições dos irmãos da dama galega e pelas ações políticas de D. Pedro – para eles, influenciado pela amante -, decidirem pela morte de Inês. Mesmo depois de suplicar por sua vida e de seus três filhos, Inês é degolada em janeiro de 1355. Morre, assim, pelo “bem” do Estado português em plena fase de consolidação. Na construção do texto, no entanto, Casona usufruiu de liberdade criativa, não se prendendo a todos detalhes históricos.
“Nossa Inês de Castro – Rainha Morta é um conto de fadas cru, politicamente incorreto porque triste e significativo porque arauto da força do amor com símbolo da grandeza humana, tão poderosa que, como nossa história demonstra, é capaz de suplantar a própria história para fincar suas raízes na eternidade”.