Jovens da Ladeira dos Tabajaras apresentam no Rio espetáculo baseado em obras do Veríssimo.
Cerca de 70 jovens da Ladeira dos Tabajaras se apresentaram em vários espaços do Rio de Janeiro com o espetáculo ”A vida é uma Comédia”, baseado em textos do Luis Fernando Veríssimo. O espetáculo é fruto do trabalho final do Projeto Passageiro do Futuro, que capacita jovens para o mercado de artes cênicas e entretenimento. Além da interpretação, os jovens são os responsáveis por toda a produção do espetáculo, passando pelo figurino, cenário, maquiagem, sonorização e iluminação.
A peça que estreou em 6 de novembro de 2011, na quadra da Escola de Samba Vila Rica, localizada na própria comunidade dos Tabajaras. Em seguida, espaços como Sesc Copacabana, Centro de Artes Calouste Gulbenkian, Instituto Benjamin Constant, Lonas Culturais e escolas públicas são alguns dos locais que os jovens também se apresentaram.
Sobre o Projeto Passageiro do Futuro
Desenvolvido desde 2001 o Projeto Passageiro do Futuro é itinerante e já formou cerca de mil jovens das comunidades de Rio das Pedras, Vila Kennedy, Água Santa, Vila Aliança, Bangu, Del Castilho, Engenho de Dentro e Andaraí. Em sua 15ª edição, este ano o projeto está sendo realizado na comunidade da Ladeira dos Tabajaras, em Copacabana, com o patrocínio do Banco Votorantim e da Shell Brasil.
A cada edição do projeto cerca de 100 jovens, entre 15 e 21 anos, frequentam oficinas de sonorização, iluminação, maquiagem, figurino, cenografia, expressão corporal e interpretação. Além disso, participam de dinâmicas de grupo, assistem palestras sobre temas do cotidiano, recebem atendimento individual com assistente social e têm seus rendimentos escolares monitorados.
Seus responsáveis também são envolvidos no projeto e participam de reuniões com os representantes das escolas atendidas, com o objetivo de discutir de que forma os ensinamentos adquiridos no projeto estão repercutindo no comportamento desses jovens em casa e na escola, melhorando assim, seus resultados nos estudos e reduzindo a evasão escolar. A comunidade atendida também é favorecida pelo projeto, com realizações de atividades e festividades locais, como apresentação de esquetes dos jovens aberta ao público, realização de festa junina e aniversários, por exemplo. “Ao desenvolver essas potencialidades, estimulamos para que o aprendizado seja utilizado em casa e na própria comunidade”, explica Juliana Teixeira, idealizadora e coordenadora do projeto.
O processo criativo do Projeto Passageiro do Futuro tem duração de 10 meses e é dividido em três etapas. A primeira é dedicada às oficinas e às visitas guiadas aos principais pontos culturais da cidade, como o Theatro Municipal, Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC), Museu Histórico Nacional (MHN), Paço Imperial, entre outros. A segunda etapa é dedicada à criação, produção e ensaio de um espetáculo teatral. Já a última etapa é a montagem e a circulação do espetáculo itinerante, que preza a vivência profissional e a formação de novas plateias, que sem esta oportunidade, não teriam acesso ao teatro e seus bastidores. Os jovens são os responsáveis por todas as etapas do processo, são remunerados com uma bolsa salário e trabalham como artistas e técnicos, confeccionando os figurinos, construindo os cenários, cuidando da sonoplastia e encenando os personagens. Durante esses 10 anos, o Passageiro do Futuro já apresentou 15 espetáculos com cerca de 60 mil espectadores.
De acordo com Juliana Teixeira, uma pesquisa promovida pelo Passageiro do Futuro nestes 10 anos registra que a maioria dos participantes teve ganho de leitura e escrita, usaram o aprendizado em benefício da comunidade, passaram a ter conhecimento de instituições culturais e de artes plásticas, passaram a frequentar bibliotecas e a ter esperanças num emprego fora da comunidade. “Fico feliz em ver os frutos que colhemos nesses anos de projeto. Temos vários exemplos de jovens que passaram pelo Passageiro e estão no mercado de trabalho em diversos segmentos. Continuamos com a meta de encaminhar aproximadamente 20% dos alunos, para o mercado. O próprio projeto e os professores absorvem parte dessa mão de obra, como assistentes e monitores das disciplinas”, comenta Juliana.
Antes mesmo do projeto desse ano finalizar, quatro jovens já estão atuando no mercado de trabalho. Três deles fazem estágio como sonoplastas da peça Emilinha e Marlene – As rainhas do Rádio, no Teatro Maison de France e outro aluno está na produtora Bateia Cultural. Além deles, jovens das outras edições são exemplos da mão de obra que conseguiram entrar para o mercado de trabalho através dos ensinamentos do projeto. Como é o caso de Jamile Regina, de 22 anos, que foi aluna do projeto em 2008 e hoje trabalha como microfonista e técnica de som e já participou de produções de Miguel Falabella e do musical Hair. Outro destaque de sucesso é Josué da Silva, de 19 anos, morador de Vila Kennedy, que foi encaminhado pelo Passageiro do Futuro para estágio na empresa Nova Lite, onde permanece até hoje como funcionário e já trabalhou na turnê de um show do Lulu Santos.