A peça O Anjo do Subúrbio é uma adaptação que a diretora Celina Sodré fez do texto original de Bertold Brecht, “A Alma Boa de Setsuan”, e que será montada com os jovens alunos da rede pública de ensino, em Vila Kennedy.
Como ser bom em um mundo tão competitivo, onde a generosidade é tragada pela miséria?
Foi com esta pergunta que Bertold Brecht escreveu esta parábola sobre a bondade. A peça é ambientada na cidade de Setsuan, pequena província no interior da China. Três Deuses descem a terra com a missão de achar uma alma que ainda seja boa. Em meio a hostilidade dos moradores e guiados por um aguadeiro que sobrevive com pequenos trambiques, eles acabam sendo hospedados pela prostituta Chen-te, percebendo nela a Alma Boa que procuravam. Em retribuição à hospitalidade da prostituta, os deuses deixam uma boa quantia em dinheiro, o suficiente para que Chen-te abra uma pastelaria. No entanto, Chen-te tem dificuldades em se manter boa e, ao mesmo tempo, preservar o seu pequeno negócio, que passa a ser alvo de população que vive no limite da pobreza. Sua generosidade a impede de dizer não e, para não ser tragada pela pobreza, acaba se travestindo de homem e inventando um fictício personagem masculino, o primo Chui-ta, que conduz os negócios com mão de ferro e pragmatismo. Se Chen-te tem dificuldade em sobreviver com sua bonadade em uma realidade de pobreza, o esforço de Chui-ta também não será menor, o transformando em um tirano da miséria.
A peça foi apresentada, entre outros lugares, no Teatro Mário Lago, Lona da Maré, Instituto Benjamin Constant, SESC Ramos, Cidade das Crianças, Lona de Anchieta, SESC São Gonçalo e CIEP Vila Kennedy.
Financiado pelo Instituto Votorantin, o grupo é remunerado com uma bolsa salário pelos ensaios e apresentações, relativo à função de atores, contra-regras, operadores de luz e som, assistentes de cenário, figurino, maquiagem e iluminação.
Relesase Passageiro do Futuro
Passageiros do Futuro se expande Noções de cidadania e capacitação para artes cênicas beneficiarão 80 jovens carentes
Juntar educação e cultura, através da capacitação técnica nas artes cênicas, formando operadores de luz e som, contra-regras, camareiras, assistentes de cenário, figurinistas, intérpretes e ainda acompanhar o ano letivo, monitorando o rendimento, com o objetivo de inibir a evasão escolar, é a proposta do projeto Passageiro do Futuro, idealizado pela atriz e produtora cultural Juliana Teixeira, que há sete anos desenvolve esse projeto em comunidades carentes e que este ano será executado na Vila Kennedy com 150 jovens, entre 15 e 21 anos.
A idéia do projeto surgiu em 2000 e foi implantado no ano seguinte, em Vila Aliança, em Bangu. Durante os sete anos de sua existência, o Passageiro do Futuro já capacitou 400 jovens carentes das comunidades da Vila Aliança, Andaraí, Água Santa e Vila Kennedy. Este ano Vila Kennedy terá mais ações como, a ampliação do número de palestras, exibição de filmes e leituras de poesias para os jovens do projeto e seus pais, sete alunos serão contratados para serem assistentes dos professores. Serão abertos espaços para as comunidades, com exposições dos trabalhos dos alunos, e apresentações de esquetes.
O projeto Passageiro do Futuro oferece a alunos da rede pública, além das noções de cidadania, a oportunidade de inserção social. O projeto abre oportunidade para renovar a formação de mão-de-obra no setor cênico, onde as escolas especializadas são em número insuficiente. Foi desenvolvido um material pedagógico específico, traçando um paralelo entre as matérias do currículo escolar com as das artes cênicas. Exemplo: Português com Interpretação, Física com Iluminação, Figurino com História, etc.
Durante o projeto, também são desenvolvidas dinâmicas de grupo e reuniões com familiares, com o objetivo de discutir de que forma as oficinas estão repercutindo no cotidiano e no comportamento dos jovens em casa e na escola. De acordo com Juliana Teixeira, a pesquisa promovida pelo Passageiro do Futuro nestes últimos sete anos, registra que a maioria dos participantes teve ganho de leitura e escrita. Aulas de reforço em português e matemática.
Além disso, usaram o aprendizado em benefício da comunidade, passaram a ter conhecimento de instituições culturais e de artes plásticas, a freqüentar bibliotecas e a ter esperanças num emprego fora da comunidade. Um dos exemplos de sucesso, é o estudante Welligton Souza, de 21 anos, que fez parte do grupo do Andaraí, em 2002. Hoje, ele é operador de som profissional e promove bailes e festas em vários pontos da cidade, e em boates de sucesso, como a Via Show e Symbol.
Como funciona o Projeto Passageiro do Futuro
O processo criativo do Passageiro do Futuro dura 10 meses, e é dividido em três etapas: Primeiro, os alunos têm a oportunidade de visitar as principais instituições culturais como o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), Museu da Arte Contemporânea (MAC, MHN, em Niterói), Paço Imperial, entre outros. A primeira etapa é também dedicada às oficinas.
A segunda etapa à criação, produção e montagem do espetáculo. E, por fim, a conclusão do trabalho, com espetáculos gratuitos, que são apresentados em escolas públicas, clubes, lonas culturais, quadras de samba, e praças.
Durante o período de ensaios e de turnê do espetáculo, o grupo é remunerado com uma bolsa salário pelos ensaios e mini-turnê, relativo às funções de atores, contra-regras, operadores de luz e som, assistentes de cenário, figurino, maquiagem e iluminação. Todos os alunos trabalham como técnicos e alguns como artistas e técnicos.
A montagem do espetáculo, itinerante – adaptado aos distintos espaços sem perda de qualidade – proporciona uma grande vivência, exigindo dos artistas e técnicos soluções criativas de acordo com as necessidades apresentadas no local. Isto significa: amadurecimento profissional para adaptação do espetáculo. Além disso, a iniciativa possibilita a formação de novas platéias, que sem esta oportunidade, não teriam acesso ao teatro e seus bastidores. Durante esses sete anos, o Passageiro do Futuro já se apresentou para 32.000 pessoas.